domingo, abril 24, 2011

Cotidiano

Silêncio. Acordou e olhou para os lados. Estava só. Mais uma vez. Levantou-se, despiu-se, banhou-se, vestiu-se e fez o almoço. Eram duas da tarde de um domingo, dia dedicado aos almoços de família ou aos solitários.
Tomou uma dose de coragem e saiu de casa, em direção a rua, buscando o que fazer para preencher as horas entre o ócio e a segunda feira, dia de retorno ao trabalho. Caminhava pelas ruas do centro da cidade, que estavam vazias, numa clara oposição aos dias da semana, quando estão abarrotadas, pessoas no frenético ritmo diário, imposto pela vida moderna.
As ruas vazias são um convite a observação e ele pode sentir a cidade, seus cheiros, sons, gosto. A cidade se descortinava, e era um lugar novo, pronto para ser descoberto, redescoberto.
Em seus muitos anos de vida ele sempre fez o mesmo roteiro, mas sempre parecia a primeira vez. Atentamente, observou as construções, ricas em detalhes. Gastou um longo tempo reparando suas cores, desenhos e sombras. Lamentou a miséria, sentiu pelas pessoas que viviam nas ruas, sem nenhuma perspectiva. E nesse quesito os via como iguais. Olhou o relógio.
Volta para casa. Abre a porta. Entra e senta no sofá. Sozinho outra vez. Liga a televisão para gastar os últimos minutos do domingo. Nem percebe quando os olhos se fecham, dando lugar a uma nova realidade, onde, cercado de amigos, aproveita algo tão raro: a companhia de velhos conhecidos.

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