terça-feira, maio 29, 2007

Coração alvinegro

O menino no domingo já acordava sabendo como seria o seu dia. Café da manhã bem gostoso, embora não fosse farto, leitura do jornal em companhia com sua mãe, momento que ela gostava de aproveitar para perguntar ao filho como ia na escola. O garoto tinha acabado de entrar na classe de alfabetização e assim estava descobrindo um novo mundo, muito além das fotos do jornal.
Por volta do meio dia era a hora do almoço e neste momento o pai fazia questão de ter todos à mesa. Ele era o primeiro a ter o seu prato servido pela mãe. Finado o almoço, descansavam por volta de uma hora e depois saíam. O engraçado é que a comunicação se dava pelo olhar e o pai nem precisava dar ordens, pois tudo fazia parte de uma espécie de ritual: ir ao Maracanã ver o jogo do Botafogo.
O pai havia se tornado botafoguense por influência de seu próprio pai, o único português botafoguense de que se teve notícia. Assim, nada mais lógico que seu filho se tornasse mais um torcedor alvinegro, já que os botafoguenses só se reproduzem assim, geneticamente.
O menino esperara a semana toda por este momento e ele finalmente havia chegado. O Botafogo estava na final e o Maracanã estaria lotado, pois os dois finalistas tinham feito campanhas maravilhosas e as torcidas estavam empolgadas. Tudo corria perfeitamente.
Pai e filho saem de casa e caminham em direção ao estádio e tudo seguia como se estivesse planejado. O menino seguia o pai, passadas apressadas, pois o tamanho de suas pernas é diminuto ainda e o pai caminha com a segurança de um campeão.
A chegada ao Maracanã é emocionante! Aquela gritaria, aquele agito, aquela energia! O menino fica ainda mais empolgado, animado! Que dia, que dia!
O pai coloca o menino nas suas costas, na intenção de livrá-lo dos choques da entrada do estádio. Passada a roleta, começa a subida pela rampa onde policiais solicitam que os torcedores levantem suas camisas, apenas para se certificarem de que tudo correrá bem.
No fim da rampa, um chamego no busto de Garrincha seguido de um pedido, quase uma súplica: "Dá uma força daí mané!" Feito isso, entram logo e buscam o lugar de sempre. Pai e filho sempre sentaram no mesmo lugar, como se no cinza do concreto eles pudessem ler seus nomes. Juntos, aguardam a entrada dos times e o início do jogo.
O jogo é emocionante! Como diriam os locutores esportivos, é um jogo "lá e cá". Fim do primeiro tempo e o Botafogo está em vantagem, ganhando por 2 gols de diferença. Tudo caminhava bem, até o segundo tempo, quando começou a tragédia.
Logo no início o time adversário marca o primeiro gol. O segundo não demora a acontecer. Jogo empatado. No fim do jogo, falta na entrada da área. Pronto. Botafogo perde a final. 3x2.
O pai, que era a imagem da alegria no primeiro tempo, apóia os cotovelos nos joelhos e chora. Um choro silencioso... o menino também chora, meio que sem saber a razão de seu pranto, chora para acompanhar o pai.
A volta para casa é triste, restando apenas escutar os gritos de "É campeão" da torcida adversária. O domingo que começou maravilhoso termina de maneira melancólica.
A semana seguinte ao jogo foi decisiva na vida do casal. O menino presencia diversas brigas. Sua mãe apenas chora, quando seu pai bate a porta dizendo que nunca mais iria voltar. E nunca mais voltou.
Os anos passam e aquele menino cresce e se torna, ao seu tempo, pai também. Seu filho começa a crescer e passa a sofrer pressões para escolher logo um time. Este pai resolve levá-lo ao Maracanã.
Levar o filho ao Maracanã é como rever um filme há muito tempo guardado, pois este pai não pisava naquele estádio deste aquele fatídico jogo. No caminho para o estádio este pai repete, meio que sem querer, o mesmo ritual que vira seu pai fazer há muitos anos atrás. Acordam, leêm o jornal, almoçam, descansam e saem de casa. Chegam ao estádio, passam pela roleta, sobem a rampa, levantam a camisa e fazem um cafuné no Garrincha. Tudo igual.
Ao entrarem na arquibancada, o pai escolhe o mesmo lugar que costumava sentar, num misto de hábito e um desejo de voltar no tempo. O jogo começa.
O primeiro tempo foi igualzinho. Botafogo sai na frente. Este pai, achando que a história iria se repetir, quase que não vê o segundo tempo. Mas seu nervosismo vai embora logo no reinício da partida, quando o Botafogo faz mais um, assegurando a vitória e o título.
No fim do jogo mais um gol e o apito final. O glorioso se torna campeão.
Na confusão, entre gritos e pulos, este pai olha para o lado e seus olhos encontram uma imagem do passado ao cruzar o olhar com seu pai, sentado quase que no mesmo lugar onde eles estavam há anos atrás. O velho pai, ao olhar o filho, tem um choque. Senta novamente e leva a mão ao coração. O jovem pai permanece de pé, sem saber o que fazer. Após alguns segundos, que pareceram séculos, o velho pai levanta e sai do estádio, com a pressa de quem perdeu um título. O jovem pai, no entando, é retirado do transe por seu filho, quando este puxa sua camisa. O jovem pai senta, apóia os cotovelos nos joelhos e chora, um choro que estava guardado há mais de trinta anos.

quinta-feira, maio 17, 2007

Paralisia

Engraçado... estou sentando há mais de três horas em frente ao computador e não fiz nada de útil. Freecell, orkut, msn e músicas. Em suma, perdi três horas da minha vida e digo isso porque em teoria tenho muito o que fazer!
Tenho que preparar quatro provas, corrigir uns trabalhos, preparar umas aulas, estudar, ler uns livros, limpar o meu quarto e banheiro, lavar a louça.... e nada. Estou aqui. E confesso não ter vontade de sair.
Sou assim: quanto mais coisa para fazer, mais parado fico. Na faculdade esse era o meu dilema no fim dos períodos, quando ficávamos atulhados de trabalhos, textos, provas (sem contar o estágio e um eventual emprego). E não podemos esquecer da nossa vida pessoal! Namoro, família, contas e coisas assim. Saco. E eu sentado em frente ao computador, como se ele fosse resolver todos os meus problemas. Não, não vai.
Essa estática me consome. Fico de mau humor, sem paciência e cada vez mais parado. Passo a não gostar de nada e reclamo (me transformo na companhia mais desagradável possível). Dizem que isso é um sinal de depressão, mas acho que não, fiz três anos de terapia, tive alta, e não foi por causa disso (eu acho).
Olho para os lados como quem procura um apoio para levantar.... respiro fundo, tomo coragem e levanto, na tentativa de vencer a enorme vontade de continuar parado.

segunda-feira, maio 07, 2007

Amigos

Tem pessoas que passam pela sua vida e se tornam inesquecíveis, mesmo tendo sido o encontro um mero e honesto "oi". Outras pessoas entram e saem da sua vida e você mal consegue lembrar o nome delas. Ainda existem pessoas que entram e fazem questão de continuar, mesmo quando você vira para elas e diz: "tchau". E para finalizar existem os encontros perfeitos, onde você não quer que a pessoa vá embora e mesmo quando num acesso de fúria você manda elas embora, elas sabem que devem ficar. Estes são seus amigos. E eu sou tudo com eles e nada sem eles... simples assim....