segunda-feira, julho 27, 2015

O professor entra em cena. A sala se apresenta vazia, embora lotada de pessoas. A solidão do mestre o impedia de perceber os presentes. Mecanicamente se dirige ao quadro, olha para o relógio e escreve: Rio, 27 de maio de 2013; História; Seu nome. Todo dia ele faz tudo sempre igual.
Procura na primeira fileira um aluno qualquer e pergunta onde havia parado na última aula. Monta o quadro com a informação obtida e espera a turma copiar. O pensamento voa.
Um vazio ocupa o lugar da alma. A rotina é um moinho, triturando a novidade, a alegria, a vontade de despertar para um novo dia. Tudo estava sem sabor. Chegou a hora de recomeçar.
Num gesto súbito sai da sala sem nada falar. Passos firmes o guiaram até a porta que foi aberta com violência, de uma só vez. Os alunos nada entenderam quando viram o professor encher os pulmões e dar um grito. Um grito não, um berro. Daqueles gruturais, Um tipo de som que o ouvido humano não está habituado a ouvir. O som produzido remete aos mais antigos ancestrais do homem. O olhar rútilo, a veia do pescoço saltada, a saliva expulsa da boca durante o grito.
Os alunos não sabem como reagir. O professor fecha a porta, caminha tranquilamente até o tablado enquanto arruma a camisa e limpa a boca. Chega em frente ao quadro, vira-se, olha para os alunos que não sabem como reagir e serenamente diz: "Bom dia a todos! Na última aula....".
Pronto. A monotonia estava quebrada. Pelo menos hoje.