sábado, abril 28, 2007

Capitalizando com o meu vazio

Nunca assisti a um show da Legião Urbana (para os íntimos, apenas Legião), até porque estreitei meus laços com a banda após a morte de Renato Russo. Ainda lembro das minhas tentativas em decorar a letra completa de Faroeste Caboclo, tentativas estas realizadas nas minhas aulas de português no ano de 1997. Saber esta letra de cor era um tipo de atestado: "Sou fã da Legião".
Neste mesmo ano comprei o cd "Mais do mesmo", meu primeiro da banda.... e feliz com minha aquisição (até porque eu comprei com o dinheiro que ganhava como mac-escravo), não parava de ouví-lo. Certa vez, em visita a casa de uma amiga (Ana Catarina, por onde andará você?), me deparei com toda a discografia da Legião e soltei: "- Ana, eu tenho o Mais do mesmo!" E ela, fria como a era glacial, respondeu: "- Coletânea não é coisa de fã. Fã mesmo tem tudo". Assim, acalentei o sonho de um dia completar a coleção.
Enquanto não chegava este dia, me distraía com o meu violão, dedilhando músicas da Legião (a primeira música que aprendi foi "Ainda é cedo"... Am, D, C.....) e obrigando as pessoas a minha volta a me aturarem cantando....
2006. Ganhando meu dinheirinho de forma honesta, me deparo com aquelas pilhas de cds nas Lojas Americanas e no Extra. Tal qual um minerador na busca pela sua redenção, busco os álbuns da Legião e aproveitando das promoções, completo em alguns meses a minha coleção. Um sonho realizado. Passei diversas tardes embalado pela voz de Renato Russo, principalmente quando escutava as gravações ao vivo, sentia a emoção do público, queria ser um deles, me sentia um deles... mas ainda faltava alguma coisa.....
Ainda em 2006 entra em cartaz uma peça de teatro sobre a vida de Renato Russo. No início me mostrei reticente em ir, pois não sou fã de teatro. Críticas e críticas depois, além do convite de amigos, decido ir. Compramos o ingresso com quase um mês de antecedência, pois o teatro era pequeno e as sessões estavam lotadas. Fui.
Um dia inesquecível.... a peça na verdade se transforma num show, com um ator inspirado e uma banda afinada, às vezes superior a original.... canto, bato palmas, me emociono.... quase choro. O show acaba e saio aliviado. Não era o Renato Russo, mas acredito que tenha sido a coisa mais próxima dele....
Outro sonho semi-realizado. Chance como esta só num próximo encontro com o Renato.
Volto no tempo. 2000. Show dos Los Hermanos no extinto BallRoom. Entro em êxtase. A galera canta o show inteiro, todas as músicas. Os caras no palco eram um espetáculo a parte. Um dos músicos, de barba ruiva, chama um casal para dançar no palco. Adorei. Viro fã. Não era a Legião, óbvio, mas o carinho que o público tinha pela banda se aproxima do que os legionários tinham...
Compro todos os cds, dvds, camisa, o diabo. Vou a todos os shows, amo cada um deles. Esta semana recebo a notícia de que a banda vai dar um "tempo". Fico sem palavras.
Perdido, sem referência, percebo que a banda que mais curto, com a qual mais me identifico, está chegando ao fim. E ao terminar a leitura da notícia, vejo a última frase: "A banda fará um último show nos dias 8 e 9 de junho da Fundição Progresso". O primeiro impulso é ir a qualquer custo! É o último show! Tenho que ir! Vou esperar começar a venda de ingressos e montar guarda na porta da Fundição. Tenho que comprar o meu logo!
Ontem meu irmão chegou da rua com a notícia de que eu já poderia comprar o ingresso pelas americanas.com. Cego pela vontade de garantir o meu passaporte para o show, vou atrás do ingresso. Ao me deparar com o preço, desmonto. Meu coração arrefece. Compro o ingresso com a sensação de que estão capitalizando com o vazio que se abriu em meu peito.

quarta-feira, abril 18, 2007

Um grito num mundo de surdos....

Hoje venho fazer uso destas linhas não para contar uma história engraçada, ou uma cena do nosso cotidiano... mas para falar sobre sonhos destruídos e ao mesmo tempo, fazer um desabafo. Hoje peço desculpas a vocês meus amigos, mas não tem jeito, preciso desabafar, gritar, dar um daqueles urros bem selvagens, convocando nosso animal interior.
Há cerca de dez dias não escrevo nada por aqui e isso poderia significar que eu estava empregando o meu tempo com outras coisas, como por exemplo o trabalho. Ou ainda, que estivesse fazendo coisas divertidas, como passeios e idas ao cinema, ou quem sabe, saboreando as vitórias mais recentes do Botafogo, a única coisa neste mundo capaz de me tirar do sério. Mas não, estava repensando a minha vida e olhando com muito desespero o quadro atual das coisas.
Como muitos de vocês sabem escolhi o magistério, a sala de aula como razão do meu viver e até bem pouco tempo atrás estava mais do que certo de que esta tinha sido a escolha mais acertada da minha vida, perdendo somente para o Botafogo. Hoje já começo a repensar isso..... muito triste, mas repenso.
Alguns dos colegas que frequentam este espaço são professores que nem eu, sabem das amarguras e dos prazeres que esta profissão pode nos proporcionar, mas ao mesmo tempo, são conscientes da nossa situação em sala de aula.
Hoje em dia os professores da rede particular são reféns dos alunos e... alunos? Não, desculpe, vamos colocar os pingos nos Is... O que vemos em sala de aula não são alunos, são clientes de uma empresa capitalista com um compromisso bem claro: ganhar dinheiro e se manter no mercado. Se isto for compatível com um bom ensino, melhor. E de acordo com os preceitos de uma empresa, não se deve perder clientes, pelo contrário, devemos conquistá-los! Fidelizá-los! A empresa deve passar a idéia de que ela é a solução de todos os seus problemas e blablabla. Mas será que a escola deve encarar seus alunos como clientes?
Nesta empresa temos os funcionários e alguns deles são os professores. E como qualquer funcionário estes professores são cobraddos no sentido de fazer o seu melhor e acho realmente que os professores devem fazer o melhor sim! Foi com este objetivo em mente que lutei muito para me tornar o que sou hoje: um professor ou até mais do que isso, nos meus sonhos acalentava o desejo de ser O professor.
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Bem, este papo de hoje deveria ser sobre sonhos certo? Então vamos a eles...
Enquanto aluno sonhei em um dia subir o tablado, encher o peito, virar para todos aqueles sentados na minha frente e soltar um gostoso "Bom dia". E após este primeiro contato, sentar à mesa e abrir o diário e começar a fazer a chamada.... e passo a passo, transformar aqueles nomes em rostos, em vidas. Sempre sonhei com isso. Sonhava também em mudar a maneira de dar aulas, rompendo com o modelo clássico, o famoso cuspe e giz. Desejava me aproximar dos alunos, ouvir suas vozes, suas dúvidas, suas paixões, seus sonhos.... sei lá... eu queria tanta coisa.....
Escolhi uma carreira, me empenhei, estudei, passei por diversas provações, terminei o meu curso, fiz tudo o que podia fazer. Realizei parte do meu sonho: tornei-me professor. Faltava a outra parte, a de entrar em sala e neste afã talvez tenha esquecido de que para realizar o meu sonho eu não dependia só de mim....
Dou aulas há cinco anos e este ano uma parte do meu mundo desabou.
Mas ainda acredito que este não é a cena final, e comparo nossas vidas à um quadro pintado a óleo, onde o artista, mesmo depois de ter colocado a tinta na tela, pode alterar toda a cena, transformando borrões em belíssimas imagens, próximas ou não da idéia inicial.... quero, prreciso acreditar nisso.
Amigos, peço desculpas novamente por ter sido tão chato, mas hoje me sinto um homem cujos sonhos foram despedaçados..... e a pessoa que tem seus sonhos tratados desta maneira, morrem um pouquinho a cada dia, tentando gritar num mundo onde todos são surdos, ou fingem ser.

sábado, abril 07, 2007

Pensamento longe.....

Mais uma vez sigo observando as pessoas nas ruas, e posso dizer sem nenhum pudor: Adoro isso. Podem me taxar de fifi ou coisas do gênero mas na verdade sou um amante das relações humanas, ou ainda, do ser humano. O considero fantástico, uma obra prima, a masterpiece de Deus (considerando a sua existência).
Estava num ônibus (este sim, o melhor meio de transporte!) parado em um engarrafamento... a falta do que fazer desviou a minha atenção para um casal sentando na minha frente, naqueles bancos que vem logo abaixo daqueles mais altos. Ela, com os olhos carregados de lágrimas represadas pelo desejo de não demonstrar fraqueza, olha para baixo e sussurra: Me desculpe.
Ele, num misto de surpresa e espanto, talvez por desta vez a culpa não ser dele, responde: Você não fez nada que necessite de um pedido de desculpas. Ele coloca o braço sobre o ombro dela e suavemente toca com os seus lábios sua namorada. Contenda resolvida.
Volto- me aos meus pensamentos.... a vida a dois pode ser muito simples ou muito complicada e acredito que isso dependa basicamente das pessoas envolvidas. Questão de vontade, vontade de ficar junto, resolver as situações da melhor maneira possível. Ceder sempre que for necessário. Engolir vaidades, egoísmos.... sei lá...
Olho para o casal na minha frente e vejo que ela sorri, feliz. Mais um ponto e eles se preparam para sair do ônibus. Pronto.... sejam felizes.
Começa a chover. Estou engarrafado na Praia do Flamengo. O tempo passa ainda mais devagar, o ônibus está praticamente vazio... e as pessoas evitam as ruas, se encolhem em marquises, rezando para que elas não desabem em suas cabeças...
Abro a janela, deixo a chuva bater no meu rosto e respingar em meus óculos.... dez, quinze minutos.... a cidade pára em dia de chuva... retiro os óculos e os enxugo na blusa... ela não absorve, apenas espalha a água... coloco de novo, o mundo ganha novos contornos, olho para a calçada.... viro o rosto em direção ao ponto de ônibus e vejo um ambulante, daqueles que transformam o ônibus no seu ganha pão, cantando e dançando.... paro e penso: o que leva este homem a estar ali? Por que ele está tão feliz?? Ainda mais num dia como estes?!?!?! E num ponto em que nenhum motorista poderá resgatá-lo?? Deixo estas questões povoando minha cabeça e ao mesmo tempo, deixo fugir um sorriso no canto da minha boca....