quarta-feira, julho 21, 2010

Diálogo entre um adolescente e um sábio chinês

Tarde de domingo e o adolescente caminha pela Quinta da Boa Vista, pensando na namorada, que agora é uma ex, a sua primeira ex. Inconsolável, ele se aproxima de uma árvore, onde um senhor de olhos puxados joga damas contra ele mesmo. O jovem se aproxima, reconhece aquele senhor, pois sempre o vira sentado ali, e inicia um assunto, que mais parecia um monólogo.
Desfilou uma enorme lista de problemas, falou e falou e o velhinho se limitava a empurrar as pedras pelo tabuleiro. Quando o jovem perguntou....
- Senhor, você acha que eu falei demais, que eu não deixava ela falar sobre a gente e acabei dizendo besteiras?
- Existem coisas que após feitas não podem ser refeitas como a flecha lançada e a palavra dita.
- Mas senhor, todos na minha família eram contra nossa namoro!
- Sem a oposição do vento, a pipa não alcança os céus.
- Oposição do vento? O problema também era o Cláudio! Ele vivia dando em cima dela!
- Dois tigres não podem ocupar a mesma montanha.
- Tigres? Ah? Outra coisa, existiam outros problemas.... eu a amava mais sei lá....
- Por maior que seja a montanha ela é incapaz de tapar o sol.
- Que montanha senhor? Onde estás vendo uma montanha? E tem mais... ela dizia que eu falava muito de mim, que sempre me colocava na frente de tudo e dela também... mas era exagero dela!
- Devemos ser humildes como o pó.
- Caramba! Acho que o senhor caducou de vez! Também, fica o dia inteiro aí, sem falar com ninguém e jogando contra você mesmo! Deve estar maluco mesmo.
- Se as suas palavras não podem ser melhores que o silêncio, mantenha o silêncio.
O velhinho fechou o tabuleiro, e se levantou. O jovem, mais confuso do que já estava, colocou as mãos na cabeça, num ato de desespero, sem saber o que fazer. O velhinho olhou para ele uma última vez e disse:
- O futuro é um mistério, o passado já passou e o agora é uma dádiva, por isso que se chama presente.
Dito isso, caminhou tranquilamente em direção ao sol poente e nunca mais sentou a sombra daquela árvore, onde o jovem ficou até entender tudo o que foi dito.