segunda-feira, janeiro 08, 2018

E ele entrou em casa. Sentou. Olhou para os gatos que começaram a ronronar, como se implorassem por atenção. "Os gatos não são assim", pensou enquanto olhava o celular para saber se ela havia falado com ele. Silêncio do outro lado.
As últimas semanas não foram simples dias no decorrer de um calendário. Ele sofrera como nunca sofrera até então. Descobrira o amor ao mesmo tempo que o via escorrer entre seus dedos. E sentado na sala sentia as lágrimas caírem em seu colo.
Nunca tinha chorado desse jeito. Real. Verdadeiro. Não era por conta de uma dor física, embora ainda confundisse tudo pela falta de experiência. Os olhos estavam alagados, a garganta engasgada, a voz não se fazia presente. Desaprendera a chorar.
Entre soluços e sons indescritíveis, as lágrimas molhavam sua camisa, evidenciando o óbvio: eram reais. A pergunta talvez fosse simples: qual era a razão dequele pranto tão sofrido?
As razões eram muitas mas possuíam a mesma origem. Aprendera, da maneira mais tosca que certos ditados eram reais. "Só se dá valor quando se perde". Era essa a frase que reverberava diariamente em sua cabeça, agora perdida em devaneios. Tivera o amor de sua vida em mãos e, por falta de tudo, deixara escapar...
A pergunta que agora tomava conta de sua pessoa era apenas uma: "seria possível reconstruir esse amor?". Utópico por definição acreditava que sim, pois para ele a utopia era apenas aquilo que ainda não aconteceu. Desprezava impossibilidades. Ciente disso tomou mil decisões, jurou seguir todas elas, pois um simples fracasso colocaria tudo a perder. E ele não queria perder nada. Principalmente ela.
Solitário, encheu a taça de vinho, deu um longo gole, esperando encontrar no álcool as respostas que não obtinha na sobriedade. Olhou novamente para o celular e percebeu que ela havia respondido. "Finalmente!", exclamou confiante. De um só gole sorveu a taça e levantou. Abriu a porta e jogou-se no mundo, atrás do seu amor utópico.

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